BIANCA 33.03

            Após o fim da consulta, Macabéa possuía um coração esperançoso. Estava certa de que seria a qualquer momento surpreendida. Se despediu da cartomante e se envolveu em um harmonioso fim de tarde, onde o pôr-do-sol encerrava mais um dia de forma esplêndida.

A cada passo que dava, a moça trazia à tona os dizeres da Madama, enfrentava um conflito interno incansável, tentava se convencer a todo custo, que apesar da vida sempre morna, dessa vez provaria seu lado fervoroso.

            À tímida nordestina andava despercebida sem se preocupar com o grande fluxo de pessoas ao seu redor, estava centralizada no que havia escutado. Caminhava em uma calçada, prestes a atravessar a rua, com passos leves, de quem não tinha a mínima pressa para adiar seu destino. Sentia a brisa passear por seu corpo, lhe causando leves calafrios. Quem a via de longe, se questionava o por que de tantos sorrisos repetitivos.

           Já era noite, Macabéa perdera tanto tempo imaginando seu futuro, que esqueceu quem era o sucesso do dia. Ao atravessar a rua, a moça se deparou com exatamente o que lhe foi prometido, nunca havia sentido as mãos encharcadas, muito menos o coração desesperadamente acelerado pulsar em si. Tinha a plena convicção de que era ele, não só pelas características físicas descritas, mas pelo turbilhão de sensações que lhe causara. 

            Apesar do anoitecer, a sensação era do sol iluminando seu rosto. Não sabia como reagir, sua única certeza era que algo havia rejuvenescido em seu interior. Estava incapacitada de dar um passo sequer adiante. Depois de ficar neste estado êxtase, de repente volta a si, percebe que aquele moço esta acompanhado por uma bela morena, que o cumprimentava com beijos.
          Continuou ali, apoiada em um muro, admirando seu destino a poucos metros. Após alguns minutos, sacudiu a cabeça e logo retomou a sua realidade, sabia que aquele moço jamais a pertenceria, e com essa certeza, continuou caminhando pela calçada, dessa vez com um sorriso mais murcho, não via a hora de se entregar a sua velha e cansativa rotina novamente.